A PENA MÁGICA
"Era uma vez ,um pequeno índio da tribo Pareci, que se chamava Itaguirá.
Itaguirá
era pequeno e fraquinho, diferente de seus amigos, que mesmo tendo a mesma
idade, eram bem maiores e mais fortes. Alem disso, Itaguirá era muito medroso.
Tinha medo de escuro, de água, de monstro, de bichos da floresta, de
trovão, do desconhecido e de muitas outras coisas. Seus amigos o chamavam de
covarde. Enquanto os outros índios aprendiam com seus pais a caçar e a pescar
,Itaguirá ficava com as mulheres e as crianças pequenas.
O
tempo foi passando e os amigos de Itaguirá foram ficando fortes, crescidos e
corajosos. Itaguirá continuava pequeno, fraquinho e medroso. Por isso os amigos
nem procuravam mais Itaguirá para brincar.
As
meninas índias também só admiravam os índios corajosos e nem olhavam para
Itaguirá. Então, percebendo que estava sozinho e sem amigos ,ele ficou muito
triste. Resolveu se abrir com sua avó; é com ela que ele conversava e contava
seus segredos. A avó, depois de ouvi-lo disse "Itaguirá, o que um índio
Pareci pode fazer, outro índio Pareci também pode – essa é a lei da selva que
sempre existiu e sempre existirá ". Sua avó aconselhou-o a procurar o
grande Pajé, o índio mais velho da aldeia, muito experiente e muito sábio; a
todos aconselhava.
Itaguirá
foi falar com o Pajé, a quem contou todos os seus problemas. O Pajé disse que
viesse encontrá-lo no dia seguinte perto do Grande Rio. Na manhãzinha do outro
dia Itaguirá foi se encontrar com o Pajé. Ele já o esperava; deu –lhe uma pena
muito bonita e disse que a colocasse na testa, pois aquela era uma pena mágica,
com muitos poderes e o ajudaria a ter coragem. Itaguirá colocou a pena na testa
e então o Pajé apontou-lhe o rio sem dizer uma palavra.
"-Pajé
!!! você está querendo dizer que é para eu pular no rio ? Mas eu não sei
nadar...eu tenho medo de água...eu vou morrer afogado..."
"-
Você não está com sua pena mágica ? Então não tenha medo, vá ." disse o
Pajé.
Itaguirá
viu que não tinha jeito e pulou no rio. Primeiro afundou direto. Lá no fundo
ele viu como o rio era bonito...peixinhos coloridos nadavam e se escondiam
atrás de plantas e pedras de todas as cores...quanta coisa ele havia
perdido...mas quando começou a ficar sem ar, passou a se debater, mexendo
braços e pernas e quando viu, subiu à tona. "Pajé , eu não morri !!!"
Mas o Pajé continuou mostrando –lhe o rio e a outra margem. Itaguirá entendeu
que ele lhe dizia para nadar até o outro lado. Ele então se lembrou que estava
com sua pena mágica e resolveu arriscar. Foi se debatendo como pode e por fim
chegou à outra margem. "Pajé ,consegui !!!" Mas ele não podia ficar
naquele lugar; o jeito era nadar de volta para perto do Pajé e assim ele fez,
com muito esforço. "Pajé ,essa pena é poderosa mesmo !"
Amanhã,
esteja aqui bem cedo ,disse o Pajé.
No
dia seguinte Itaguirá chegou cedo, muito animado, com sua pena na testa. O Pajé
mandou –o pular novamente no rio e nadar até a outra margem e depois retornar.
E assim sucessivamente todos os dias durante 60 dias. Ao fim desse tempo,
Itaguirá já nadava muito bem, com muita desenvoltura e sem nem um tiquinho de
medo.
Amanhã,
disse o Pajé, eu quero encontrá-lo perto da Grande Montanha.
No
dia seguinte, desconfiado e com muito medo, Itaguirá foi encontrar o Pajé.
Mas
não esqueceu de levar sua pena mágica.
O
Pajé assim que o viu fez um sinal para que ele subisse e escalasse a Grande
Montanha.
"Pajé,
você quer que eu suba?mas é muito perigoso...eu vou me machucar...posso
despencar pela encosta...além disso acho que lá em cima tem um urso furioso..."
"Mas
você tem a sua pena que o ajudará a ter coragem", disse o Pajé .
E
Itaguirá resolveu arriscar. Foi subindo, se agarrando como podia às plantas, às
pedras e mesmo se esfolando todo, depois de muito esforço conseguiu chegar no
topo.
"Pajé!!!
eu consegui!!! e aqui nem tem nenhum urso furioso e a vista é linda de se
olhar!"
E
Itaguirá foi descendo e escorregando pela encosta e chegou lá embaixo todo
arranhado, com a tanga rasgada, mas feliz e orgulhoso.
No
dia seguinte voltou ao mesmo lugar e durante 60 dias o Pajé mandou-o escalar a
montanha. Nos últimos dias Itaguirá já não tinha a menor dificuldade em subir e
descer.
"
Pagé ,ainda bem que você me deu essa pena tão poderosa que me dá tanta coragem!
."
No
outro dia Pajé encontrou Itaguirá e lhe disse "Hoje vamos realizar nossa
terceira missão : você irá caçar um jacaré ."
"Jacaré
?!?!?! mas jacaré é o animal mais difícil de se caçar...ele vai me matar...não
dá para a gente caçar uma paca ,um tatu...?"
"Itaguirá
,a sua pena vai ajuda-lo. Eu vou lhe dar um pedaço de pau; quando o jacaré
abrir a boca, você deve colocar o pau na boca dele e assim ele não poderá mais
fechá-la. Então ele vai começar a dar rabeadas e a saltar. Quando ele saltar,
aqui está um facão, que você enterrará bem no coração do jacaré ."
Foram
então para a lagoa. Itaguirá estava apavorado, mas como confiava na sua pena,
resolveu se arriscar. Pulou dentro da lagoa e não demorou nadinha e já apareceu
um jacaré imenso com a boca escancarada. Itaguirá enfiou o pedaço de pau
naquela bocarra e o jacaré com dor e sem poder fechar a boca começou a saltar e
rabear. Itaguirá esperou o melhor momento e zás! enfiou a faca bem no coração.
"Matei o jacaré ! Pajé, você viu ?"
"Matei o jacaré ! Pajé, você viu ?"
O
Pajé tudo observara e tinha um sorriso nos lábios.
Quando
Itaguirá se curvou na lagoa para lavar o facão, ele viu sua imagem refletida na
água límpida, e ficou muito admirado com o que viu. Ele havia se transformado
num índio grande e muito forte. "Pajé, eu fiquei forte assim ? cheio de
músculos ? "
"Claro
Itaguirá, pois depois de todos esses dias de treinamento, você se desenvolveu e
agora é tão forte, corajoso e grande como qualquer outro índio. Agora você está
livre de mim e pode voltar à aldeia e rever seus amigos."
Itaguirá
agradeceu muito ao Pajé e quis lhe devolver a pena mágica. Agora ele não
precisava mais dela. Seus medos tinham acabado e ele se sentia cheio de
coragem. O Pajé poderia dar a pena para um outro indiozinho medroso que
aparecesse.
Porem
o Pajé pegou a pena e jogou-a no rio. Itaguirá ficou desesperado. e quando se
preparava para pular no rio e recuperar a pena, o Pajé lhe disse:
"Deixe-a
ir Itaguirá. Essas pena não é mágica. É simplesmente a pena de uma arara que
passou voando perto de mim e eu peguei porque achei bonita...Não foi a pena que
lhe deu coragem...a coragem estava dentro de você; esteve sempre com você e
você não sabia. Mas daqui em diante todas a vezes que precisar, você vai
encontrá-la ."
Itaguirá
voltou para a aldeia, para seus amigos, para sua casa. Passou então a ser
admirado por todos e até arrumou uma namorada...a índia mais bonita de todas !
Voltou
também para a casa da avó, que sorriu ao vê-lo e pensou consigo mesma: O que um
índio Pareci pode fazer, outro índio Pareci também pode; essa é a lei da selva
que sempre existiu e sempre existirá."
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